A produção orgânica vem crescendo a cada ano no país e isso se reflete no aumento da oferta e na variedade destes alimentos nas feiras, supermercados e serviços de entrega em domicílio, além de restaurantes que servem pratos elaborados com alimentos orgânicos. Este crescimento gera benefícios ao meio ambiente, aos agricultores e aos consumidores. Todos estes ganhos são amplamente divulgados pela mídia e também por campanhas governamentais.
Contudo, a agroecologia ainda tem grandes desafios para continuar seu crescimento em nosso país. Um deles diz respeito à produção em si, que deve melhorar em escala e ter melhor eficiência no processo produtivo. Já existem empresas e profissionais da área empenhados em planejar e executar uma produção orgânica eficiente, e conseqüentemente, mais apta a ter maior escala, além dos próprios agricultores, que aprimoram o manejo com suas próprias experiências. Assim sendo, o aumento da produção e da variedade de alimentos orgânicos é questão de tempo.
Mas há outro desafio para este crescimento. É muito mais complexo e exige uma mudança de mentalidade de nós brasileiros: é o desafio cultural. Nós brasileiros temos a cultura de achar que o alimento orgânico é caro. Realmente, os alimentos orgânicos são em média 40% mais caros que os convencionais. Isso é o que nossa cultura afirma. Mas, os orgânicos são caros, ou os alimentos convencionais são muito baratos? De fato, sempre tendemos a pensar que o alimento deve ser barato e desvalorizamos algo que na verdade deveria ter maior valor.
O alimento barato tem custos ocultos, que são a desvalorização do trabalho do pequeno agricultor, que se sente desmotivado em sua atividade, a degradação ambiental e a piora da qualidade de nossa alimentação. Por serem ocultos, ignoramos estes custos, porém, pagamos por eles, com o inchaço de nossas metrópoles e todas as conseqüências disto - trânsito caótico, poluição do ar, violência - inchaço este, causado em parte pelo êxodo rural. Pagamos com a destruição do ambiente que deveria ser um recurso para nossos filhos e netos e pagamos com o aumento da incidência de câncer e outras doenças causadas pela piora da qualidade de nossa alimentação.
A incoerência deste costume se evidencia nos tempos recentes do Brasil. Temos vivido uma época de crescimento econômico, com grande oferta de crédito. Sendo assim, nós brasileiros nunca tivemos tanta oportunidade de adquirir bens de consumo. O interessante é que, nesta onda de aumento de consumo, pagamos centenas, às vezes milhares de reais em equipamentos eletrônicos que dentro de 2 ou 3 anos não funcionarão mais, ou, na melhor das hipóteses, estarão obsoletos. Isso sem contar quando pagamos um absurdo de juros para obtê-los. Por outro lado, achamos ruim ter que despender R$50, R$70,00 a mais no mês para começarmos a aderir ao alimento orgânico, algo que terá efeito benéfico para nós, consumidores, e para o planeta e as próximas gerações por longos anos.
Claro que não se deve pagar uma fortuna por um alimento somente porque o mesmo é orgânico, pois, infelizmente, há quem se aproveite desta onda verde para vender alimento a um preço abusivo. Mas devemos, sim, reavaliar nossa atitude como consumidor: temos o direito de consumir o que bem entendermos com nossa renda, que aumentou, porém, devemos ter consciência de que podemos utilizá-la não somente para adquirir algo que irá nos satisfazer por pouco tempo e depois virar lixo, mas também para investir em nossa saúde, no meio ambiente e nas gerações futuras.
Luis Eduardo Arns Pereira - Eng. Agrônomo