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segunda-feira, 31 de julho de 2017

Resistência aos agrotóxicos

Talvez você já tenha ouvido alguém dizer que não é necessário temer os agrotóxicos, pois o organismo desenvolve resistência, assim como as pragas desenvolvem. Mas será que isso procede?

De fato, muitos insetos adquirem resistência a alguns agrotóxicos com o passar dos anos, contudo, devemos levar em conta a maneira como eles adquirem esta resistência: a aplicação do produto nem sempre é uniforme, e nos locais em que a dosagem aplicada é menor, propicia a sobrevivência de indivíduos com certa resistência ao químico aplicado. Desta forma, ocorre a seleção da resistência, e ao longo de gerações, todos os insetos terão resistência cada vez maior ao agroquímico.

Em tese, o mesmo pode acontecer com os seres humanos. Contudo, isso levaria séculos: o ciclo de vida dos insetos é bem mais curto que o nosso: 40, 60, 90 dias, varia de espécie para espécie. Para fazer uma pequena comparação, vamos considerar que uma determinada espécie de inseto tem 3 gerações por ano (Geralmente é mais!). Isso significa que em 10 anos, haveriam 30 gerações deste inseto, sendo selecionadas em sua resistência a alguma molécula química utilizada como pesticida. É um período em que geralmente uma espécie de inseto pode desenvolver uma resistência considerável, principalmente se utilizado somente um composto químico neste período. Para que adquiríssemos a mesma resistência, teríamos que passar por esse mesmo processo de seleção, ou seja, 30 gerações. Considerando que cada geração humana é em média de 25 anos, precisaríamos de "apenas" 750 anos para atingir este mesmo nível de resistência. Isso se estivéssemos expostos a somente um tipo de molécula química. Na prática, estamos expostos a um amplo "coquetel" de moléculas: herbicidas, fungicidas, inseticidas, nematicidas, entre outros. Ou seja, não dá para confiar que nós, nossos filhos, netos e bisnetos iremos desenvolver algum tipo de resistência aos agrotóxicos.

Há que se considerar ainda um outro fator: os insetos são selecionados conforme a resistência a intoxicação aguda, o mesmo tipo de intoxicação a que os agricultores estão expostos, que é aquela fulminante, e pode levar a óbito em poucas horas. Inclusive muitos agricultores decidiram parar de usar agrotóxicos por quase terem ido desta para melhor ao manusear agrotóxicos - e eles têm certeza de que não irão adquirir alguma resistência a isso, nem seus filhos, nem seus netos. Acontece que a maioria da população está exposta a um outro tipo de intoxicação, que é a crônica. Este tipo se caracteriza pelo consumo de doses baixíssimas diariamente e que, com o passar dos anos, pode desencadear o desenvolvimento de doenças crônicas que vão desde enxaquecas até câncer. Ou seja, causam grande sofrimento e diminuem muito nossa qualidade de vida e não causam morte instantânea, como no caso da aguda. Embora hajam casos de câncer em pessoas na faixa de 20 e 30 anos, geralmente estas doenças crônicas se desenvolvem com mais intensidade após os 40 anos, depois do período reprodutivo, ou seja, o processo de seleção para resistência contra a intoxicação crônica simplesmente não ocorre. Assim sendo, não podemos ir na onda de que teremos resistência aos agrotóxicos, pois é pouco provável que isso aconteça. Melhor prevenir que remediar!

Luis Eduardo Arns Pereira
Agrônomo e Gestor do Balaio Orgânico   

quinta-feira, 27 de julho de 2017

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